Oikophilia e Oikophobia
Como funciona o amor e o ódio pelo lar
"O brasileiro tem síndrome de vira-lata": certamente o leitor já ouviu esta expressão. Criada em 1950 por Nelson Rodrigues, a frase surgiu após a derrota da seleção brasileira na Copa do Mundo daquele ano. Contudo, ela se estende a outras áreas da vida do brasileiro: nunca se achou apto a ganhar nenhuma competição, deprecia a própria cultura, a economia, a inteligência e a moral do seu país. Se considera o resto do resto.
A expressão que define este sentimento chama-se oikophobia, que deriva do grego: oikos (casa, lar) e phobos (medo). Dentro do contexto político, é a prática utilizada por determinadas ideologias (de esquerda) para o menosprezo da própria nação.
O filósofo britânico Roger Scruton, em sua obra “England and the Need for Nations”, utilizou a oikophobia para significar repúdio ao lar. Ele argumenta que é "um estágio pelo qual a mente adolescente normalmente passa", mas que é uma característica de alguns, tipicamente esquerdistas, impulsos políticos e ideologias que defendem a xenofilia, ou seja, a preferência por culturas estrangeiras.
Isso é nítido em nossa cultura: o cinema brasileiro, grandemente patrocinado pela Lei Rouanet, quase nunca aborda aspectos positivos de nosso país. Isso não quer dizer que não tenhamos problemas, pelo contrário; problemas transbordam, não apenas aqui, mas em todo lugar. Contudo, nossos cineastas abordam em demasia as dificuldades, com a desculpa de “fazer uma crítica”.
Analisemos o longa “Medida provisória”. Com participação de Taís Araújo, Seu Jorge e Adriana Esteves, a sinopse relata que
“em um futuro distópico, o governo brasileiro decreta uma medida provisória, em uma iniciativa de reparação pelo passado escravocrata, provocando uma reação no Congresso Nacional, que aprova uma medida que obriga os cidadãos negros a migrarem para a África na intenção de retornar a suas origens.”.
Por mais que seja uma obra de ficção, qual sentimento um trabalho como este desperta? “Tá vendo, é isso que o governo quer fazer, o presidente é racista, querem enviar todos os negros de volta para a África...”. E isso faz alimentar ainda mais a síndrome de vira-lata.
Outra questão que é tratada desta forma é a falta de conhecimento do povo brasileiro de sua própria história, que faz com que despreze personalidades, fatos e obras importantes de seu passado. Recentemente, Guilherme Terreri, nome civil da drag queen Rita Von Huty, em entrevista para o podcast “Embrulha sem Roteiro”, disse que o Hino Nacional é elitista e não foi feito para o brasileiro comum cantar, menosprezando a riqueza linguística da obra. Este é um claro exemplo de oikophobia.
Porém, graças ao nascimento do movimento conservador no Brasil o desprezo deu lugar ao amor pelo lar, pela pátria: a chamada oikophilia. Scruton também utilizou esta expressão, que foi analisada por Robert George em artigo para o New York Times: “De fato, Roger [Scruton] foi o principal defensor filosófico do amor ao lar e ao próprio, o que ele chamou de ”oikofilia”. É claro que, como humanista e cristão, ele reconhecia deveres para com toda a humanidade – até mesmo deveres de amor (entendidos como sendo menos sobre sentir do que sobre querer): Todos são irmãos e irmãs sob a paternidade de Deus, que nos fez a todos em sua própria imagem. Mas Roger também sustentou que uma pessoa natural e corretamente tem um amor especial e deveres para com os membros de sua família, tradição de fé, comunidade local e região e concidadãos.”
Percebam que Scruton, como conservador, entendia que não se pode valorizar o que há fora “do lar” sem antes prestar o devido respeito pelo que existe dentro. Como respeitar autoridades internacionais sem ter a devida reverência às próprias? Como admirar o patriotismo das nações irmãs e desprezar a pátria mãe? A Bíblia diz “ame cada um o seu próximo como a si mesmo. Eu sou o Senhor.” (Levítico 19.18), logo, eu não posso demonstrar nada pelo meu próximo se eu mesmo não nutrir por mim mesmo.
Os movimentos progressistas, com suas agendas em curso, esforçam-se para que a população, a nível mundial, despreze seus valores, a beleza, as tradições, ensinando a desdenhar seus antepassados e lançar no lixo tudo o que deu certo desde a Antiguidade. Contudo, é necessário exercermos a oikophilia, o amor pelo lar, a começar pela nossa casa, nossa família, nossa fé, valores e costumes.
Muitas vezes pensamos que venceremos agendas progressias com grandes feitos, mas não; Nosso Senhor fala:
“A que assemelhare-mos o reino de Deus? ou com que parábola o representaremos? É como um grão de mostarda, que, quando se semeia na terra, é a menor de todas as sementes que há na terra; mas, tendo sido semeado, cresce; e faz-se a maior de todas as hortaliças, e cria grandes ramos, de tal maneira que as aves do céu podem aninhar-se debaixo da sua sombra.” (Marcos 4:30-32).
O grão de mostarda é a menor das sementes, e é a que mais cresce. Se grãos de mostarda forem plantados por nós nos corações dos nossos filhos e netos, veremos árvores frondosas e que fornecem sombra, refúgio, aos demais. São as pequenas ações de oikophilia que farão a diferença.
Comentarios