MARIA MADALENA
Feminismo e contradições
Mulheres Bíblicas: PARTE I
Como tudo começou…
O movimento feminista tem raízes históricas que remontam ao século XIX. Os livros de história e muitos sites nos contam que a primeira onda do feminismo, por exemplo, emergiu no contexto de lutas por direitos das mulheres, incluindo o direito ao voto e mudanças na autoridade religiosa masculina nas igrejas. No entanto, quando exploramos as interpretações bíblicas e o papel da mulher segundo o feminismo, encontramos uma figura que desafia os estereótipos: Maria Madalena.
Interpretações Bíblicas e o Papel da Mulher segundo o feminismo
A Declaração dos Sentimentos, apresentada pelas feministas em 1848, já questionava conceitos bíblicos e abria caminho para futuros conflitos religiosos.
Elizabeth Cady Stanton, uma das líderes do movimento feminista de primeira onda, enxergava a Bíblia como um mito tenebroso que lhe roubava a alegria. Suas visões sobre a Bíblia e o cristianismo divergiam dos princípios bíblicos tradicionais.
O feminismo muitas vezes questiona interpretações tradicionais da Bíblia sobre o papel da mulher. Algumas feministas argumentam que a Bíblia foi usada para justificar a opressão e a submissão das mulheres.
Contudo, ao se mergulhar diante das escrituras nos deparamos com mulheres que não possuem o estereótipo de submissão que a sociedade tenta nos convencer. No contexto bíblico, a submissão está longe de ser uma aceitação de autoridade superior na figura do marido. Apesar de algumas definições considerarem a palavra submissão como algo inferior, a submissão bíblica está mais para humildade.
No âmbito familiar, a submissão é, por exemplo, o respeito do filho ao pai e a mãe. No caso da esposa, é respeitar seu marido. No entanto, os especuladores da discórdia esquecem que a Bíblia é apresentada como uma via de mão dupla. Não basta ser respeitado, é necessário ser digno de respeito. Como assim?
Na passagem do livro de Efésios, é destacado o amor sacrificial que os maridos devem ter por suas esposas, comparando-o ao amor de Cristo pela Igreja.:
“Maridos, ame cada um à sua mulher, assim como Cristo amou a igreja e entregou-se por ela.” (Ef 5, 25)
Em Colossenses, é dado ênfase em amar e tratar a esposa com gentileza, evitando qualquer atitude negativa:
“Maridos, ame cada um a sua mulher e não a tratem com amargura.” (Col 3, 19)
No livro de Pedro, é ressaltado a importância de tratar as esposas com honra, reconhecendo-as como co-herdeiras da graça de Deus. Portanto, podemos afirmar que a Bíblia apresenta a figura feminina de modo respeitoso, com igualdade e dignidade.
“Do mesmo modo vocês, maridos, sejam sábios no convívio com suas mulheres e tratem-nas com honra, como parte mais frágil e co-herdeiras do dom da graça da vida, de forma que não sejam interrompidas as suas orações.” (1 Pe 3, 7)
Maria Madalena: uma mulher à frente do seu tempo
Maria Madalena, uma figura bíblica fascinante, é uma mulher à frente de seu tempo e com traços fortes que desafiaram as normas da época. Maria Madalena foi uma das seguidoras mais próximas de Jesus Cristo. Ela não apenas o acompanhou durante seu ministério, mas também testemunhou sua crucificação e ressurreição. Sua liderança espiritual se destacou entre os apóstolos e discípulos, o que era incomum para uma mulher na sociedade patriarcal da época.
Ela não hesitou em enfrentar desafios. Ela permaneceu perto de Jesus mesmo durante sua crucificação, demonstrando coragem e lealdade. Sua determinação a levou ao túmulo na manhã da ressurreição, apesar das dificuldades e do luto.
Mas quem foi Maria Madalena?
Maria Madalena é conhecida como a primeira pessoa a ver Jesus ressuscitado. Ela correu ao túmulo vazio e encontrou o Senhor. Essa experiência a tornou uma testemunha crucial da ressurreição, um evento central na fé cristã.
O nome de Maria Madalena carrega significado. “Maria” é derivado do hebraico “Míriam”, que significa “amada de Deus”. Ela personifica a dualidade da vida: amargura e graça divina. Assim como todos nós, Maria Madalena experimentou alegria e tristeza, mas sua fé e amor a tornaram uma figura notável.
Seu “sobrenome”, “Mágdala”, está relacionado à cidade onde ela nasceu e significa “a mulher da torre”. Ela era aquela que se destacava entre os apóstolos, guardiã dos ensinamentos de Cristo. Essa liderança e destaque podem ter gerado ciúmes entre os seguidores de Jesus, mas Maria Madalena permaneceu firme em sua missão.
“E Jesus, tendo ressuscitado na manhã do primeiro dia da semana, apareceu primeiramente a Maria Madalena, da qual tinha expulsado sete demônios.” Mc 16, 9
Essa passagem destaca a transformação na vida de Maria Madalena após seu encontro com Jesus. Ela não apenas testemunhou a ressurreição, mas também experimentou a libertação espiritual. A expressão “sete demônios” pode ser interpretada como possessão demoníaca ou como uma grave doença no corpo, mas o fato é que Jesus a curou e a transformou completamente.
Se a Bíblia fosse esse relato tão machista como alguns tentam insistir, Madalena teria tanta ênfase e importância dada nos textos bíblicos? Será que ela não seria ignorada ou omitida?
Maria Madalena não era apenas uma seguidora casual de Jesus. Ela estava profundamente envolvida em seu ministério e se destacava entre os discípulos. Sua proximidade com Jesus revela uma relação de confiança e respeito mútuo, algo incomum para uma mulher na sociedade patriarcal da época.
Ela vivenciou uma transformação de seu amor em Jesus ressuscitado. Ela se libertou de seu desapego interior e encontrou sua verdadeira força de amar. Ela se tornou capaz de amar com base naquilo que estava dentro de si, amando Jesus com sua recém-desperta força de amar.
Na verdade, a bandeira que o feminismo prega não é a igualdade, mas a libertinagem O feminismo defende uma autonomia sexual das mulheres, ou seja, o direito de cada mulher tomar decisões sobre sua própria vida sexual, contracepção e prazer. Por isso, está em sua pauta ideias como o aborto e o “direito reprodutivo”. Algumas feministas defendem o acesso irrestrito ao aborto e o direito de escolher seus parceiros sexuais sem compromisso.
Ainda cabe destacar que o feminismo questiona a autoridade masculina. Algumas feministas veem a liderança masculina nas Igrejas como opressiva. A “autoridade masculina” representa Jesus Cristo e em contrapartida, uma vez representando Jesus, estes homens devem zelar pelas suas esposas, mães e filhas como o próprio Jesus. No final, a proposta bíblica é que homens e mulheres são seres diferentes e por isso possuem papéis complementares.
Em conclusão, se a visão cristã fosse inferiorizar as mulheres não haveria figuras como Maria Madalena. Ela transcendeu as limitações de sua época. Sua liderança espiritual, testemunho da ressurreição e coragem a tornam um exemplo inspirador para todas as mulheres. Ela personifica a dualidade da vida, mostrando que a graça divina pode transformar até mesmo os corações mais amargos. Maria Madalena é uma dentre tantas mulheres bíblicas que desafia os estereótipos e nos lembra que a fé não depende de gênero.
Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. III N.º 41 - ISSN 2764-3867
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