MENEZES COSTA
"Com conhecimento se constrói cidadania!"
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- A raposa e as uvas
E o que Bolsonaro tem a ver com isso Todos temos sonhos. O ser humano possui desde tenra idade (alguns mais, outros menos) objetivos que anseiam cumprir ao longo da vida, e isso é natural. A própria Bíblia diz que é Deus quem efetua em nós tanto o querer como o realizar (Filipenses 2.13), e ela também diz que o desejo cumprido é árvore de vida (Provérbios 13.12). Contudo, há aqueles que, quando não conseguem realizar seus objetivos, sempre procuram, terceirizar suas frustrações: “Não consigo por culpa de fulano, ciclano, beltrano, tetraclano, pentaclano...”. Até porque, desde Adão e Eva, o método mais fácil de se escapar é culpar a todos, menos ter humildade de reconhecer seus erros. A fábula da raposa e as uvas exemplifica isso: uma raposa deitou-se debaixo de uma parreira e viu uvas agradáveis aos olhos e tentou pegá-las. Tentou, tentou, porém sem sucesso. Após várias tentativas, a raposa vou queixar-se com o pássaro: “Eu pegaria as uvas se elas estivessem maduras. Eu me enganei no começo, mas quando me dei conta que ainda estavam verdes, deixei para lá. Uvas verdes não são um bom alimento para um paladar tão refinado como o meu.” E por que estou falando a respeito disso? Porque em eleições tão polarizadas é nítido que há a uva e existem as raposas, e que as raposas estão tão desesperadas que apresentam uma dissonância cognitiva gravíssima: assim como a personagem, emitem as desculpas mais esfarrapadas por não conseguirem alcançar o topo. O exemplo mais recente é das manifestações de 7 de Setembro: quantas não foram as raposas, ou melhor, os jornalistas, que fizeram de tudo para conter este evento? “Cuidado, os bolsonaristas estarão armados com AK-47, haverá snipers, tudo escapará do controle, não saiam às ruas!” Porém, nada disso aconteceu, pelo contrário: eu, que estive presente em Copacabana, pude constatar um povo ordeiro que apenas exigiu, pacificamente, sua liberdade. Famílias inteiras, crianças, idosos, pessoas de todas as classes sociais e cores, e até freiras! Todos uníssonos pelo fim das amarras impostas pela toga. E as raposas, o que fizeram: negaram a realidade! A comentarista da Globo News, Eliane Castanhede, como não pôde pegar as “uvas”, resolveu difamá-las, assim como a raposa da fábula. Na noite do dia 7, em rede nacional, ela disse: “Hoje é um dia triste. Bolsonaro colocou milhoes de pessoas na rua. Foi bom pra ele, foi péssimo para o Brasil.”. Miriam Leitão, outra “raposa”, comentou: “Uma apropriação indébita do 7 de Setembro. Foi um absurdo o que aconteceu hoje.”. Com mais de um milhão de pessoas nas ruas (se fizermos uma conta simples por metro quadrado, somando RJ, SP e Brasília), os jornais tiveram a insensatez de escrever a seguinte manchete: “Bolsonaro reúne 64 mil em Copacabana e 32 mil na Paulista”. E o Jornal Nacional, a maior das raposas, anunciou que o evento de Brasília houve apenas elogios ao governo e “comentários machistas”. Aliás, uma raposa bem peculiar chamada Folha de São Paiulo, ao invés de ressaltar a grandiosidade das manifestações, utilizou-se de uma brincadeira (que nem foi feita pelo presidente) para dizer que o presidente poderia ter “disfunção erétil”. Explico: um animador de rodeios conhecido como Cuiabano, amigo do presidente, disse que Bolsonaro é “imbrochável”, Oras, é óbvio que não se tratava do suposto desempenho sexual do presidente! Cuiabano denominou desta forma para explicar que, mesmo após tantas perseguições da mídia e problemas no governo que nunca faltam, Jair Bolsonaro tem se mostrado forte, aguerrido, erguido. Não há comentário machista ou coisa do gênero! Contudo, a Folha não teve vergonha alguma ao publicar o seguinte: “Problemas de ereção atingem 70% dos homens na idade de Bolsonaro”. Antigamente, as “raposas” da mídia eram ovacionadas, tratadas como semi-deuses, inerrantes, perfeitas e imaculadas; ninguém ousava discordar da velha imprensa, ainda que tivesse motivos para tal. E estas “raposas” deliciavam-se com as “uvas” neste tempo: o prestígio, os elogios, o dinheiro estatal que alimentava suas redações. Então, apareceu Jair Bolsonaro, trazendo a maior “uva”: a verdade. Tendo como lema o versículo de João 8.32 “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”, ele passou a expor como de fato funciona a grande imprensa brasileira e, ao assumir a cadeira presidencial, deixou de alimentar a velha imprensa com dinheiro do contribuinte. E o resultado não seria diferente: choro e ranger de dentes. As “raposas” não conseguem ter a hombridade de reconhecer que, se a população já não os adula mais é por culpa de si mesmos; e assim como a personagem da fábula, culpam a falta de maturação das uvas; e como é difícil alcançar esta “uva” denominada verdade, as “raposas” acusam o “pássaro”, o povo, que tem as asas que o levam ao seu objetivo. O sonho das “raposas” a cada dia estará longe e seguirão frustrados se não olharem a si mesmos e reconhecerem: “Se não me delicio mais com esta uva, pedirei ao pássaro ajuda. Quem sabe assim, serei bem-sucedida.”
- Fundação de Petrópolis
Palácio Imperial, 1960 (hoje Museu Imperial) O palácio de verão era uma tradição das monarquias européias. A Casa de Bragança, em Portugal, veraneava no Paço Real e no Palácio da Pena, ambos em Sintra. No Brasil, desde de Dom João VI, a Família Imperial passava seus verões no Convento Jesuíta de Sta Cruz, no Rio de Janeiro, tentando, sem muito sucesso, se livrar do calor do clima de São Cristóvão. Dom Pedro II não tinha muita simpatia nem pelo Convento, nem pela Fazenda de Sta. Cruz. Em 1850, Dom Afonso, primeiro filho do Imperador, tinha dois anos e a Família Imperial estava desde o Natal em Sta Cruz, quando, sem motivo aparente, o menino apareceu morto no seu berço. O monarca ficou desolado e tomou horror pelo Convento, decidindo nunca mais ali voltar, passando a se interessar pelo projeto do seu mordomo. Ele conheceu a Serra da Estrela em 1844, quando esteve na Fábrica de Pólvora. Em 1845, esteve hospedado com a imperatriz na casa-grande do Córrego Seco, especialmente preparada desde outubro de 1843 para recebê-lo. Paulo Barbosa nasceu em Sabará, MG. Aos quatorze anos era cadete e, em 1810, foi promovido a alferes. Como capitão, foi transferido para o Imperial Corpo de Engenheiros. No ano de 1825, embarcou para a Europa em viagens de estudos. Com a queda de José Bonifácio, tutor do imperador, o coronel Paulo Barbosa da Silva passou a ser, por intermédio de uma nomeação, o Mordomo da Casa Imperial, função que ia desempenhar com grande desenvoltura. O mordomo Paulo Barbosa, com seu espírito liberal e ecumênico, era contra a escravidão e prestou relevantes serviços ao Império. A sua participação na fundação de Petrópolis foi decisiva quando mobilizou o seu companheiro de arma, o engenheiro Major Júlio Frederico Köeler. Além disso, foi Ministro Plenipotenciário na Rússia, na Alemanha, na Áustria e na França, onde, em 1851, foi demitido de sua função diplomática. Retornou ao Brasil a chamado de D. Pedro II, em 1854, novamente como Mordomo da Casa Imperial, falecendo em 1868. Júlio Frederico Köeler era germânico da Mogúncia, no vale do rio Reno, dominada na época pela França de Napoleão, com suas instituições que valorizavam o mérito e a riqueza em lugar das convenções e privilégios. Os hábitos e o refinamento franceses marcaram profundamente o temperamento do Mj Köeler e orientaram a sua atuação nos primeiros anos da fundação de Petrópolis. Ainda jovem, ingressou no Exército prussiano, chegando a alferes. Em 1828, foi contratado para servir no Exército Imperial, depois de prestar rigorosos exames perante a Academia Militar do Rio de Janeiro. Casou-se, em 1830, na catedral de Niterói, com D. Maria do Carmo Rebelo de Lamare. Afastado do Exército por questões políticas quando foram demitidos todos os oficiais estrangeiros não naturalizados, Köeler foi contratado como engenheiro civil na Província do Rio de Janeiro. Em 1831, já naturalizado cidadão brasileiro, retornou ao Exército e, nos doze anos seguintes, realizou importantes obras públicas na província, uma delas a construção da Estrada Normal da Estrela, que dava acesso a Petrópolis. Em 1843, arrendou a Fazenda Imperial e iniciou o seu trabalho na região. O plano urbanístico para Petrópolis era complexo porque a cidade deveria ser levantada entre montanhas, aproveitando o curso dos rios. Ele inverteu o antigo estilo colonial português de construir as casas com o fundo para os rios que eram utilizados apenas como esgoto, como na maioria das nossas cidades. Passou a aproveitar os cursos de água para traçar pelas suas margens as avenidas e as ruas que davam acesso aos bairros. Outro aspecto relevante no plano foi a preocupação com a preservação da natureza, determinada pelo seu código de posturas municipais. Köeler faleceu num trágico acidente durante um torneio de tiro ao alvo, na Chácara da Terra Santa, de sua propriedade. Sua curta administração frente à colônia de Petrópolis foi decisiva para o que foi realizado nos anos posteriores. O major Júlio Frederico Köeler, ao projetar Petrópolis, reservou um terreno para a construção de uma Igreja Católica, que anos depois se tornaria a Catedral São Pedro de Alcântara. Na primeira metade dos anos 1800, as consequências sociais e econômicas da Revolução Francesa e da Revolução Industrial resultaram numa difícil condição de vida para os povos de língua alemã. A população estava politicamente desiludida e havia discórdia por toda a parte. Ricos e pobres endividados, o desemprego era grande no Rhur, o coração do aço alemão, com muitos problemas nas minas de carvão. Salvo os que viviam da vinicultura, uma parte da população que, movida pela esperança de vida melhor, deixou tudo e partiu para as Américas. A maioria dos colonos que chegou a Petrópolis era natural de aldeias localizadas nos bispados de Treves e Mogúncia, na Renânia e Westphália, (Grão-Ducado de Hesse-Darmstadt e no Ducado de Nassau), região atualmente conhecida pelo nome de Hunsrück, localizada na confluência dos rios Reno e Mosel. Em 1837, aportou no Rio de Janeiro o navio Justine com 238 imigrantes alemães em viagem para a Austrália. Devido aos maus tratos sofridos a bordo, eles resolveram não seguir viagem, permanecendo no Rio de Janeiro. O Mj Koeler soube da ocorrência e se entendeu com a Sociedade Colonizadora do Rio de Janeiro para trazer os imigrantes para trabalhar na abertura da Estrada Normal da Estrela, pagando uma indenização ao capitão do navio. Assim, foi dada permissão aos colonos de desembarcarem no Rio de Janeiro. Estes, sob as ordens de Koeler, estiveram primeiramente trabalhando no Meio da Serra, depois foram para o Itamarati. A segunda leva de colonos foi planejada pelos presidentes da província João Caldas Viana e Aureliano Coutinho para trabalhar em obras na província, mas eles acabaram em Petrópolis, locando no terreno do plano urbanístico traçado por Koeler. Foram 600 casais de colonos alemães contratados em 1844, exigindo-se que fossem artífices e artesãos com experiência. Treze navios deixaram Dunquerque com 2.338 imigrantes, o primeiro deles chegando ao porto de Niterói em 13 de junho e o último em 7 de novembro de 1845, sendo os imigrantes alojados em barracões ao lado da igreja matriz. Acertados os trâmites legais, eles foram transferidos para o Arsenal de Guerra do Rio, onde se acha hoje instalado o Museu Histórico Nacional, ficando por lá alguns dias e, então, seguiram viagem pela baía da Guanabara e pelo rio Inhomirim até o Porto da Estrela. De lá, para o Córrego Seco, foram a pé ou a cavalo, com escalas na Fábrica de Pólvora e no Meio da Serra, onde existiam ranchos para os viajantes. Muitos dos colonos que deixaram Dunquerque não chegaram a Petrópolis em conseqüência do mau passadio a bordo e do surto de febres nos depósitos. Outros, especialmente crianças, não resistiram à penosa subida da serra e foram enterrados pelo caminho. O diplomata belga, Auguste Ponthoz, em seu livro “Avaliação sobre o Brasil”, afirma que 252 imigrantes morreram, sendo 56 nos portos ou na viagem para Petrópolis. Vieram muito mais alemães católicos do que protestantes. No dia 19 de outubro de 1845, na praça Koblenz, dia de São Pedro de Alcântara, num altar ornamentado com flores silvestres, o Padre Luís Gonçalves Dias Correia celebrou uma missa para os católicos e o pastor Frederico Ave-Lallemant professou um culto para os protestantes. O Presidente da Província, Aureliano de Souza e Oliveira Coutinho, compareceu a essa solenidade, tendo feito um grande elogio ao trabalho dos colonos. Foram muitas as dificuldades iniciais. Logo que aqui chegaram, foi necessária a compra de 200 cabras para alimentar as crianças, já que suas mães não tinham leite, devido às agruras da viagem. Köeler planejou uma colônia agrícola em Petrópolis sem estudo prévio da geologia do terreno, o que resultou no fracasso do empreendimento. Os colonos abriram estradas, derrubaram matas para a construção de residências e semearam suas hortas para consumo e foram utilizados nas obras públicas, retificando os rios, drenando os lodaçais e construindo os prédios da povoação. Para tornar mais fácil a adaptação dos colonos alemães à nova terra, Koeler nomeou os quarteirões de Petrópolis com o nome de suas regiões de origem, como Mosela, Palatinato, Renânia, Nassau, Bingen, Ingelheim, Simeria, Castelânia, Westphalia. Ele também homenageou a Família Imperial em dois quarteirões, Vila Imperial e Vila Teresa. Em 1854, Otto Reimarus, que continuou o trabalho de Koeler, criou os quarteirões de Darmstadt, Woerstadt, Worms e outros. Também prestou homenagem às várias nacionalidades de imigrantes de Petrópolis, nomeando outros quarteirões: Quarteirão Francês, Quarteirão Suíço, Quarteirão Inglês e mais tarde o Quarteirão Italiano. Para os brasileiros que ajudaram a construr Petrópolis, dedicou o Quarteirão Brasileiro e o Quarteirão Mineiro. Hoje, os descendentes dos colonos estão por toda a cidade e seus nomes de família podem ser encontrados no Obelisco do centro da cidade, nos guias telefônicos e dão nomes a ruas e praças. O progresso dos colonos alemães dinamizou Petrópolis, contribuindo para o seu desenvolvimento. O seu trabalho e a sua lembrança fazem parte da cidade. A partir de 1960, a cidade não conseguiu os grandes investimentos de que necessitava para se modernizar e poder enfrentar a crescente concorrência comercial e industrial. Houve então a grande mudança de rumo na vida do petropolitano e da sua cidade, que se voltou cada vez mais para a sua tradição histórica, para a urbanização e arquitetura que ficaram de seu passado e para a beleza e preservação da sua natureza. A cada dia, novas mansões e palácios abriam suas portas para visitação. A Prefeitura de Petrópolis planejou e organizou o setor de turismo e cultura e uma extensa rede de facilidades foi sendo oferecida ao turista, como informações, eventos, pousadas e hotéis, restaurantes e outras atrações cheias de requinte e particularidades, capazes de atrair o interesse do visitante. Em 1979, um grupo de petropolitanos animados, corajosos e vibrantes com sua cidade se movimentou em torno de entidades preservacionistas como a APANDE e sensibilizou o presidente João Figueiredo, conseguindo que fosse assinado o Decreto 80, em 1981, impedindo demolições e construções que descaracterizavam o Centro Histórico. E ele atribuiu à cidade o título de CIDADE IMPERIAL. Com apenas cinco artigos no seu decreto, Figueiredo salvou o que restou da Petrópolis imperial. Nos anos seguintes, em conjunto com os moradores, a Câmara Municipal promulgou um bem elaborado código de posturas municipais que garantiu as tradições e os valores da cidade. Tanto no Império como na República, Petrópolis se desenvolveu, sempre estimulado pela presença de pessoas ilustres que amaram a cidade e aqui passaram boa parte de suas vidas. Muitos deles estão sepultados em Petrópolis e foram incorporados ao patrimônio cultural de nossa cidade. Especialmente a sua rica tradição ligada à Família Imperial brasileira, em particular a figura de D. Pedro II, passou a ser um valor significativo para a cidade e um forte apelo para turismo cultural de maior grandeza. A educação também é um expressivo valor petropolitano. Os alunos do nosso ensino fundamental público e privado sempre se destacaram nas avaliações oficiais. Também os estudantes do ensino superior, representados pela Universidade Católica de Petrópolis, Faculdade de Medicina de Petrópolis, Universidade Estácio de Sá e, desde 2015, pela primeira universidade pública do munícípio, com a instalação do campus da Universidade Federal Fluminente na cidade, entre outras, destacam-se na vida profissional. Para que esses valores histórico-culturais possam se transformar em riqueza para a cidade, estão sendo feitos grandes esforços pela iniciativa privada e pelo poder público, com ações diretas como investimentos na educação, na divulgação e, principalmente, na transformação da consciência dos que vivem em Petrópolis para que se sensibilizem com esses valores e recebam com toda atenção aqueles que vierem nos visitar. Outras cidades imperiais da América Latina são Ciudad Imperial, no sul do Chile, e a Vila Imperial de Potosi, na Bolívia, que foram as primeiras e receberam seus títulos concedidos por Carlos V. Dom Pedro I deu o título de Imperial à Cidade a São Paulo, à Vila Rica (Ouro Preto) e a Montivideo, querendo consolidar a presença militar brasileira na Banda Oriental do Rio da Prata em 1825. Os regentes de 1831 chamaram uma pequena vila de Goiás de Vila do Porto Imperial. Finalmente, Dom Pedro II preferiu denominar nossa vizinha como Imperial Cidade de Niterói em 1841. Todas essas concessões foram rigorosamente legais, concedidas por decretos oficiais. Petrópolis, porém, entre todas essas, é a única que nasceu sob o patrocínio e com a proteção de Dom Pedro II, em terras da Família Imperial. Até a sua morte, nosso Imperador nunca se desligou de sua cidade. Petrópolis é cidade imperial oficiosa, mas com todo o direito e o orgulho desse título de nobreza. Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania N.º 20 na pág. 23. Link para a versão em flipbook: https://heyzine.com/flip-book/ef7cb9a478.html
- Oikophilia e Oikophobia
Como funciona o amor e o ódio pelo lar "O brasileiro tem síndrome de vira-lata": certamente o leitor já ouviu esta expressão. Criada em 1950 por Nelson Rodrigues, a frase surgiu após a derrota da seleção brasileira na Copa do Mundo daquele ano. Contudo, ela se estende a outras áreas da vida do brasileiro: nunca se achou apto a ganhar nenhuma competição, deprecia a própria cultura, a economia, a inteligência e a moral do seu país. Se considera o resto do resto. A expressão que define este sentimento chama-se oikophobia, que deriva do grego: oikos (casa, lar) e phobos (medo). Dentro do contexto político, é a prática utilizada por determinadas ideologias (de esquerda) para o menosprezo da própria nação. O filósofo britânico Roger Scruton, em sua obra “England and the Need for Nations”, utilizou a oikophobia para significar repúdio ao lar. Ele argumenta que é "um estágio pelo qual a mente adolescente normalmente passa", mas que é uma característica de alguns, tipicamente esquerdistas, impulsos políticos e ideologias que defendem a xenofilia, ou seja, a preferência por culturas estrangeiras. Isso é nítido em nossa cultura: o cinema brasileiro, grandemente patrocinado pela Lei Rouanet, quase nunca aborda aspectos positivos de nosso país. Isso não quer dizer que não tenhamos problemas, pelo contrário; problemas transbordam, não apenas aqui, mas em todo lugar. Contudo, nossos cineastas abordam em demasia as dificuldades, com a desculpa de “fazer uma crítica”. Analisemos o longa “Medida provisória”. Com participação de Taís Araújo, Seu Jorge e Adriana Esteves, a sinopse relata que “em um futuro distópico, o governo brasileiro decreta uma medida provisória, em uma iniciativa de reparação pelo passado escravocrata, provocando uma reação no Congresso Nacional, que aprova uma medida que obriga os cidadãos negros a migrarem para a África na intenção de retornar a suas origens.”. Por mais que seja uma obra de ficção, qual sentimento um trabalho como este desperta? “Tá vendo, é isso que o governo quer fazer, o presidente é racista, querem enviar todos os negros de volta para a África...”. E isso faz alimentar ainda mais a síndrome de vira-lata. Outra questão que é tratada desta forma é a falta de conhecimento do povo brasileiro de sua própria história, que faz com que despreze personalidades, fatos e obras importantes de seu passado. Recentemente, Guilherme Terreri, nome civil da drag queen Rita Von Huty, em entrevista para o podcast “Embrulha sem Roteiro”, disse que o Hino Nacional é elitista e não foi feito para o brasileiro comum cantar, menosprezando a riqueza linguística da obra. Este é um claro exemplo de oikophobia. Porém, graças ao nascimento do movimento conservador no Brasil o desprezo deu lugar ao amor pelo lar, pela pátria: a chamada oikophilia. Scruton também utilizou esta expressão, que foi analisada por Robert George em artigo para o New York Times: “De fato, Roger [Scruton] foi o principal defensor filosófico do amor ao lar e ao próprio, o que ele chamou de ”oikofilia”. É claro que, como humanista e cristão, ele reconhecia deveres para com toda a humanidade – até mesmo deveres de amor (entendidos como sendo menos sobre sentir do que sobre querer): Todos são irmãos e irmãs sob a paternidade de Deus, que nos fez a todos em sua própria imagem. Mas Roger também sustentou que uma pessoa natural e corretamente tem um amor especial e deveres para com os membros de sua família, tradição de fé, comunidade local e região e concidadãos.” Percebam que Scruton, como conservador, entendia que não se pode valorizar o que há fora “do lar” sem antes prestar o devido respeito pelo que existe dentro. Como respeitar autoridades internacionais sem ter a devida reverência às próprias? Como admirar o patriotismo das nações irmãs e desprezar a pátria mãe? A Bíblia diz “ame cada um o seu próximo como a si mesmo. Eu sou o Senhor.” (Levítico 19.18), logo, eu não posso demonstrar nada pelo meu próximo se eu mesmo não nutrir por mim mesmo. Os movimentos progressistas, com suas agendas em curso, esforçam-se para que a população, a nível mundial, despreze seus valores, a beleza, as tradições, ensinando a desdenhar seus antepassados e lançar no lixo tudo o que deu certo desde a Antiguidade. Contudo, é necessário exercermos a oikophilia, o amor pelo lar, a começar pela nossa casa, nossa família, nossa fé, valores e costumes. Muitas vezes pensamos que venceremos agendas progressias com grandes feitos, mas não; Nosso Senhor fala: “A que assemelhare-mos o reino de Deus? ou com que parábola o representaremos? É como um grão de mostarda, que, quando se semeia na terra, é a menor de todas as sementes que há na terra; mas, tendo sido semeado, cresce; e faz-se a maior de todas as hortaliças, e cria grandes ramos, de tal maneira que as aves do céu podem aninhar-se debaixo da sua sombra.” (Marcos 4:30-32). O grão de mostarda é a menor das sementes, e é a que mais cresce. Se grãos de mostarda forem plantados por nós nos corações dos nossos filhos e netos, veremos árvores frondosas e que fornecem sombra, refúgio, aos demais. São as pequenas ações de oikophilia que farão a diferença.
- Um trono ameaçado!
Aos Católicos do Brasil Hoje é dia de Nossa senhora Aparecida, Padroeira do Brasil. Todos recordamos que no ano de 1888 a Princesa isabel aboliu a escravidão no Brasil e por esse gesto, recebeu do Papa Leão XIII a maior honraria destinada a personalidades católicas de grande destaque e benemerência, a chamada Rosa de Ouro(Fonte: Agência Senado). Entretanto, essa atitude da Princesa lhe rendeu perseguições da aristocracia da época, enfrentando uma verdadeira campanha contra sua imagem. "A República não foi feita contra a família imperial, mas claramente contra Dona Isabel, em seu terceiro reinado (os republicanos diziam que a abolição foi um confisco de propriedade e queriam indenização), e contra os negros. A República foi uma forma de impedir a politização do movimento abolicionista e ascensão dos negros — defende Antunes de Cerqueira”, diz a Agência Senado. Pressionada junto com a família Real a deixar o Brasil, consta que a Princesa Isabel foi ao encontro da imagem de Aparecida deixando o seguinte bilhete: “Eu, diante de Vós, sou uma princesa da terra e me curvo, pois és a Rainha do céu e te dou tão pobre presente que é uma coroa que seria igual à minha, e se eu não me sentar no trono do Brasil, rogo que a Senhora se sente nele por mim e governe perpetuamente o Brasil”. Esse gesto humilde e devoção a Nossa Senhora feito pela Princesa Isabel foi seguido pelo Papa Pio X, que em setembro de 1904, oficialmente coroou Nossa Senhora Aparecida como Rainha do Brasil e, mais tarde, Padroeira do Brasil. Durante a Consagração de Nossa Senhora, o Cardeal Sebastião Leme, então Arcebispo do Rio de Janeiro: pronunciou as seguintes palavras: “Senhora Aparecida, o Brasil é vosso! Rainha do Brasil, abençoai a nossa gente! (…) Senhora Aparecida, o Brasil vos ama, o Brasil em vós confia! Senhora Aparecida, o Brasil vos aclama! Salve, Rainha!" Por ocasião do centenário da Coroação de Nossa Senhora Aparecida, o Santo Papa João Paulo II afirmou: “ [Nossa Senhora] teve uma pátria, pertenceu a um povo, aos quais amou e pelos quais sofreu; podemos pensar que Ela experimentou essa realidade humana que é o patriotismo, conhece seu sentido mais profundo. Tendo levado consigo estes valores para o Céu, Ela sabe o que pedir junto de Deus melhor do que o fizera Ester ao rei Assuero: «Só te peço, ó rei, que salves o meu povo» (cf. Est 7, 3). Hoje, no seu dia, precisamos refletir o quanto o Trono de Aparecida está sob ameça. Ela, que segundo João Paulo II, experimentou essa realidade do patriotismo, sendo amada e venerada por esse povo pertencente a um país de raízes católicas, cujo 1º ato solene após o descobrimento foi a celebração de uma santa Missa, numa praia, com altar improvisado, cravando a cruz do Cristo, como sinal da presença católica para a luta pela implantação do Reino de Deus e evangelização dos povos (“Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a todas as criaturas – Mt 16,15). E hoje, nossa Rainha assiste muitos católicos abandonando a luta pelo Reino de Deus, pela propagação do Evangelho trocado por pregação de ideologias, pela perda dos valores religiosos e do patriotismo, colaborando para entregar seu Trono aos comunistas e socialistas, que odeiam Nossa Senhora, odeiam Jesus Cristo, odeiam as religiões judaico-cristãs. Não de agora, mas bem mais acentuada se faz a perseguição aos cristãos, em especial aos católicos, por comunistas e socialistas: Ortega, na Nicarágua, recentemente, expulsou freiras e padres, prendeu bispo, fechou rádios católicas. Igrejas são incendiadas no Chile e na Venezuela\, e outras igrejas invadidas no Brasil, interrompendo o culto da Santa Missa. Lula, candidato, afirmou em bom tom, que se chegar ao poder vai dizer aos padres católicos e pastores protestantes qual e o seu lugar e sua função, ameaçando a liberdade de expressão e culto religioso. E muitos padres, bispos, leigos aplaudindo… Infelizmente parte da clero e da cúpula da Igreja, de forma negacionista do verdadeiro evangelho e do Magistério da Igreja, faz de conta que não lembra de todos os documentos do Magistério que condenam o comunismo e o socialismo. Só para lembrar alguns: No ano de 1846, Pio IX, na Encíclica Qui pluribus já firmava a posição do Magistério da Igreja contra o comunismo: “Nesse ponto, a doutrina nefasta do comunismo, como eles dizem, é mais adversa à própria lei natural; uma vez admitido, os direitos de tudo, coisas, propriedade e até a própria sociedade humana seriam perturbados pelo fundo. A esse aspecto estão as armadilhas tenebrosas daqueles que, em mantos de cordeiros, mas com espírito de lobos, se insinuam com falsas aparências de piedade mais pura e de virtude e disciplina mais severas: surpreendem gentilmente, fecham ligeiramente, matam ocultamente; afastam os homens da observância de toda religião e destroem o rebanho do Senhor”. Trinta e dois anos depois, em 1878, num documento magisterial a Igreja se pronunciava novamente, agora na voz de Leão XIII:“Clame, não cesse, levante a voz como uma trombeta. Vocês entendem, veneráveis irmãos, que falamos dessa seita de homens que, sob vários e quase bárbaros nomes, são chamados de socialistas, comunistas, eles planejam há muito tempo – a derrubada de toda a sociedade civil”. Papa Leão XIII, em 28 de dezembro de 1878,na Encíclica Quod apostolici muneris, afirmava: “Obedecendo ao dever do Nosso cargo apostólico, não deixamos logo no princípio do Nosso Pontificado, nas cartas encíclicas que Vos dirigimos, Veneráveis Irmãos, de apontar esta peste mortal que se introduz como a Serpente por entre as articulações mais íntimas dos membros da sociedade humana, e a coloca num perigo extremo”. Convém recordar palavras de João Paulo II, quando nos alerta na Centesimus annus que A Igreja recebe o ‘sentido do homem da Revelação divina. “Para conhecer o homem, o homem verdadeiro, o homem integral, é preciso conhecer Deus”, dizia Paulo VI, citando imediatamente Santa Catarina de Sena, que, em oração, exprimia a mesma doutrina: “Na tua natureza, Divindade eterna, conhecerei a minha natureza’”. Acordem católicos: Isto simplesmente não existe na consciência de um comunista. Para eles, Deus foi inventado pelo homem. O Deus do comunismo é o povo proletariado! E, para encerrar, Pio XI, na Quadragesimo Anno reforça dizendo ser incompatível o socialismo com o cristianismo católico: “Para lhes respondermos, como pede a Nossa paterna solicitude, declaramos:o socialismo, quer se considere como doutrina, quer como fato histórico, ou como ‘ação’, se é verdadeiro socialismo, mesmo depois de se aproximar da verdade e da justiça nos pontos sobreditos, não pode se conciliar com a doutrina católica,pois concebe a sociedade de modo completamente avesso a verdade cristã (…)”. Ressalte-se que todos esses documentos estão em plena vigência para o Magistério da Igreja. Então, por que setores da nossa Igreja “esqueceram” esses documentos e não os difundem ao povo católico? Com qual fundamento apoiam os socialistas e comunistas? De fato o Trono de Nossa Senhora está ameaçado! E ao que parece, ameaçado também por dentro! Nesse dia 12 de outubro, nos resta fazer das palavras de João Paulo II, ao lembrar a oração de Ester, como nossa Oração de hoje: “Tendo levado consigo estes valores para o Céu, Ela sabe o que pedir junto de Deus melhor do que o fizera Ester ao rei Assuero: «Só te peço, ó rei, que salves o meu povo” (cf. Est 7, 3). Mãe Aparecida, salve o povo brasileiro! Públio Caio Bessa Cyrino Procurador de Justiça do MPAM e Ministro da Palavra na Paróquia Nossa Senhora Rainha dos Apóstolos, em Manaus
- Batalha de Lepanto e Nossa Senhora do Rosário
No Golfo de Lepanto, depois conhecido como golfo de Corinto, travou-se a maior batalha naval do Século XVI. Os otomanos ampliavam um violento ataque aos territórios cristãos e avançavam sobre a população ocidental. Os cristãos sentiam-se desanimados, as forças muçulmanas pareciam invencíveis, vilipendiavam o cristianismo, negavam a divindade de Jesus Cristo, invadiam os territórios cristãos e escravizavam a população. Haviam subjugado 12 mil seguidores de Cristo e os condenaram a trabalhos forçados na África. Por fim, tomaram a ilha de Chipre. A pedido do Papa, os cristãos se uniram para deter a destruição dos fiéis, formaram a Liga Santa, com forças navais da Espanha, Nápoles, Veneza e Gênova1. A Armada lançou-se ao Mar Jônico para enfrentar os agressores fé sagrada. A superioridade da esquadra inimiga era gritante, mas isto não intimidou os guerreiros de Cristo. O Papa São Pio V, pediu à cristandade que se pusesse de joelhos a rezar o Santo Rosário enquanto a batalha revolvia o mar. Ele mesmo, junto com um grupo de oração, incessantemente jejuava e rezava o terço o pedindo auxílio à Mãe de Deus para defender a palavra e os seguidores de seu Filho no embate que se desenvolvia. O comandante da esquadra cristã, Dom João da Áustria, no principal mastro da nau capitânia, hasteou o estandarte com a imagem de Jesus Crucificado, presente de Sua Santidade para lembrá-lo da missão de defesa da santa fé. Sob seu comando todos os marinheiros se confessaram e receberam o Sacramento da Comunhão2. Rezavam incessantemente o Santo Rosário, o mantinham junto ao corpo, em súplica a Nossa Senhora para que os auxiliasse nessa luta em defesa da cristandade. Os mouros dispuseram seus navios em forma de lua crescente, símbolo da expansão impiedosa de seu império. Os navios cristãos foram dispostos em duas colunas, em forma da Santa Cruz. Súbito, ouviu-se o ribombar de um canhão inimigo, era a afronta moura que avisava o início do ataque. As embarcações cristãs rumaram para a luta. O embate foi violento e o desequilíbrio numérico das esquadras inundava a alma dos guerreiros inimigos de soberba. Os cristãos impuseram a seus corpos todas as forças do espírito, alimentava sua determinação o sentido de suas existências: a defesa da fé revelada ao povo hebreu, confirmada e esclarecida, por Jesus Cristo, aos apóstolos. Surpreendentemente, os ventos mudam de direção, os cristãos dominam o combate e os otomanos são derrotados. A Liga Santa libertou os 12 mil cristãos escravizados. Os marinheiros mouros relatam que viram, sobre os mastros principais das embarcações da Liga Santa, uma Senhora exuberante, poderosa, irresistível, que os repeliu com a força de sua majestosa presença. No instante da vitória, no dia 07 de outubro do ano da graça de 1571, o Papa São Pio V levantou os olhos para fitar o céu de Roma, nele estava estampada a imagem da mesma Senhora Magnífica que derrotou os guerreiros mouros. O Pontífice voltou-se para os religiosos, que rezavam com ele, e disse: É hora de pararmos de pedir, vamos agradecer, Nossa Senhora acaba de nos dar a vitória. 10 dias depois, chegou à Santa Sé a notícia da vitória cristã em Lepanto. Confirmou-se a visão do Papa. Agradecidos, os marinheiros cristãos chamaram sua defensora de Nossa Senhora das Vitórias, depois, Nossa Senhora do Rosário. As vitórias foram alcançadas através da oração do Santo Rosário. Santíssima Senhora, dai-nos a vitória! Rogai por nós, Nossa Senhora do Rosário! Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Nº. 21
- As “relações intergeracionais”, o Così è (se vi pare) progressista
Luigi Pirandello foi um dramaturgo, porta e romancista italiano. Recebeu o Nobel de Literatura em 1934. Uma de suas peças mais conhecidas chama-se “Così è (se vi pare)” (Assim é... se lhe parece), escrita em 1917. Nela, o autor retrata o tema da verdade, o contraste entre realidade e aparência, entre verdadeiro e falso, mas questiona a verdade como sendo objetiva. “Verdade relativa” sempre foi uma das cartas na manga dos casacos vermelhos, pertencentes aos membros da ala progressista; afinal, onde não há freio nem limites no que tange à costumes, existe um verdadeiro “vale-tudo”, sem ordem e sem pensar nas consequências. Uma dessas “verdades relativas” é: “quem disse que menores não podem decidir com quem se relacionar, mesmo que seja com maiores de idade?” Os progressistas chamam isso de “relação intergeracional”: uma relação amorosa entre um menor e um adulto, com o consentimento de ambos e que não necessariamente resulta em abuso. Isso foi o que decidiu a Suprema Corte da Colômbia no mês de Agosto. Menores entre 14 e 18 anos agora podem tomar a “decisão livre” de casar-se civilmente ou estabelecer uma união estável, com a “vontade responsável” de formar uma família. Para a Corte, “os maiores de 14 anos e menores de 18 anos” podem, “conforme sua idade e maturidade”, decidir “sobre suas próprias vidas e assumir responsabilidades”. “Ninguém mais poderia ser dono de seus destinos. Assim, devem ser consideradas pessoas livres e autônomas, com a plenitude de seus direitos”, acrescenta o texto. Com a sentença, já não é necessária a autorização dos pais. Infelizmente, cristalizou-se algo que foi durante muitos anos uma bandeira de movimentos da ala vermelha da força. Essa postura indecorosa foi defendida por Simone de Beauvoir e seu amante, Jean-Paul Sartre (que, sabidamente, aliciavam menores), além de Michel Foucault, Jacques Derrida, pelo romancista e ativista pelos direitos dos homossexuais Guy Hocquenghem, entre outras personalidades. A feminista radical Shulamith Firestone, em sua obra “A dialética dos sexos”, defendia a “liberdade sexual para que todas as mulheres E CRIANÇAS possam usar a sua sexualidade como quiserem (...) serão permitidas e satisfeitas TODAS AS FORMAS DE SEXUALIDADE.” Para os progressistas, assim é se lhe parece: se um menor pode dar consentimento, por que ser refreado em sua sexualidade? Para os conservadores, porém, além de um freio moral, há uma verdade incontestável: um menor NÃO tem capacidade de consentir. E mostrarei isso com o caso da própria Beavouir. A filósofa e seu amante cooptavam menores para sua rede nefasta de abuso. A primeira vítima foi Olga Kosachiewicz, filha de um imigrante perseguido pela Revolução Russa. Simone e Sartre prometeram à família cuidar da menina, que à época, tinha 17 anos, e pagar suas despesas com educação. Aos poucos, a menina foi envolvida em uma teia nefasta e seduzida por Beauvoir. Olga começou a ir mal nos estudos e seus pais a convenceram a voltar para casa. O casal, prometendo mundos e fundos, conseguiram trazer Olga de volta a seu convívio. A menor relacionava-se com Simone, mas relutava em estar com Sartre, principalmente por conta de sua aparência. Olga aceitava dinheiro do filósofo, porém recusava a ter relações com ele. A pressão psicológica era tão grande que Olga mutilava-se constantemente. Para se “vingar”, Sartre seduziu a irmã da adolescente, Wanda. Infelizmente, as duas irmãs foram as primeiras de uma longa fila de menores cooptadas por este casal psicopata. Das amantes que tiveram, pelo menos uma suicidou-se e outra tornou-se viciada em entorpecentes. O cerne da questão é: se, de acordo com os que defendem as ditas “relações intergeracionais”, o menor pode decidir entrar e sair do relacionamento, por que as moças cooptadas pelo casal francês não o fizeram? Devemos sempre lembrar que a ala progressista não possui freio moral, como já dito no início deste texto, e por conta disso, há uma falsa imagem de “liberdade”: podemos fazer tudo se sentirmos vontade, dizem. Relativizam até um atentado gravíssimo contra menores em prol de uma “autonomia sexual infantil”. Em 2020, a ex-ministra da Família e agora, senadora eleita Damares Alves, denunciou que algo semelhante transita pelos corredores do Congresso. Segundo ela, o projeto de lei de número 236/2012, propõe que a idade do consentimento recue para DOZE ANOS. De acordo com Damares, apesar do relator da proposta ter rejeitado a medida, alguns assessores parlamentares falavam de reduzir a idade de consentimento para 10 anos, o que seria como legalizar a pedofilia. – O relator rejeitou, manteve 14. Mas nem foi apreciado o voto do relator e nem foi apreciado o projeto inicial. Eu saí do Senado em dezembro de 2018. Nos corredores, já se falava, entre assessores, da possibilidade de apresentar uma emenda para diminuir para 10 [a idade do consentimento]. O que se faz com isso? Legaliza-se a pedofilia. Então, eu preciso reagir. Percebe-se a tentativa de se normalizar algo nefasto e que sequestra a infância de milhares de crianças. Mas, já que tudo no mundo moderno é relativizado, não se pode caracterizar isso como “violência”, mas como “escolha”. Afinal, Così è (se vi pare). Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania N.º 21 Faça o download, gratuitamente, do seu exemplar e leia demais artigos: https://www.direitonasescolas.com/revista-conhecimento-cidadania
- Belo Horizonte
Caderno de Variedades da Revista Conhecimento & Cidadania Em 1701, o bandeirante João Leite da Silva Ortiz chegou à Serra de Congonhas à procura de ouro. Em lugar do metal, encontrou uma bela paisagem, de clima ameno e próprio para a agricultura. Resolveu ficar e construiu a Fazenda do Cercado, onde desenvolveu uma pequena plantação e criou gado. O progresso da fazenda logo atraiu outros moradores e um arraial começou a se formar em seu redor. Viajantes que por ali passavam, conduzindo o gado da Bahia em direção às minas de ouro e pedras preciosas, fizeram da região um ponto de parada. O povoado foi batizado de Curral Del Rei. Aos poucos, o Curral Del Rei cresceu apoiado na pequena lavoura, criação e comercialização de gado e fabricação de farinha. Algumas poucas fábricas, ainda primitivas, instalaram-se na região: produzia-se algodão, fundia-se ferro e bronze. Das pedreiras, extraía-se granito e calcário. Frutas e madeiras eram vendidas para outros locais. Com a decadência da mineração, o arraial se expandiu. Das 30 ou 40 famílias existentes no início, a população saltou para a de 18 mil habitantes. Elevado à condição de Freguesia, mas ainda subordinado à Sabará, Curral Del Rei englobava as regiões de Sete Lagoas, Contagem, Santa Quitéria (Esmeraldas), Buritis, Capela Nova do Betim, Piedade do Paraopeba, Brumado Itatiaiuçu, Morro de Mateus Leme, Neves, Aranha e Rio Manso. Vieram as primeiras escolas, o comércio se desenvolveu. No centro do arraial, os devotos ergueram a Matriz de Nossa Senhora da Boa Viagem. O Distrito foi criado com a denominação de Nossa Senhora da Boa Viagem do Curral del Rey, por Ordem Régia de 1750 e, em 1890, renomeado como Belo Horizonte. Elevada à categoria de município e Capital de Minas Gerais, com a denominação de Cidade de Minas, em 1893, e passou a denominar-se Belo Horizonte, em 1901. Ocorreram sucessivas divisões administrativas e desmembramentos desse território, sem que houvesse mudança no nome da cidade. O ciclo de prosperidade durou pouco e diversas regiões que constituíram o antigo arraial se tornaram autônomas. Rapidamente, a população diminuiu e a economia local entrou em decadência. No final do século XIX, restavam cerca de quatro mil habitantes. Com a Proclamação da República, em 1889, cresce a esperança de transformações. Para entrar na era que então se anunciava, deixando para trás o passado monárquico, os sócios do Clube Republicano de Curral Del Rei propuseram a mudança de seu nome para Belo Horizonte. Nesse clima de euforia, os horizontinos receberam a notícia da construção da nova capital. Mudança da capital de Ouro Preto para Belo Horizonte A primeira tentativa de transferir a sede do Governo de Minas para uma cidade diferente de Ouro Preto data de 1789, quando os inconfidentes planejaram instalar a capital de sua república em São João Del Rei. Depois disso, mais quatro tentativas foram feitas, todas fracassadas. A questão só veio a ser considerada após a Proclamação da República e, dessa vez, não seria uma simples transferência, mas a construção de uma nova cidade. Em 1891, o Presidente do Estado, Augusto de Lima, determinou – por decreto – a transferência da capital para um lugar que oferecesse condições precisas de higiene. Adicionada à Constituição Estadual, a lei provocou muitos protestos da população ouro-pretana. Os mineiros dividiram-se entre os '‘mudancistas’', favoráveis à nova capital, e os '‘não mudancistas’'. Cada um desses grupos fundou seu jornal, promovendo reuniões e debates. O Governo Estadual, enfrentando essas disputas, criou uma Comissão de Estudos para indicar, dentre cinco localidades, a mais adequada para a construção da nova cidade e Belo Horizonte venceu. Em 17 de dezembro de 1893, com a Lei Nº 3 adicionada à Constituição Estadual, a sede do Governo transferiu-se para Belo Horizonte, onde a nova capital deveria ser inaugurada. A mesma Lei criou a Comissão Construtora formada por técnicos responsáveis pelo planejamento e execução das obras, dentre os quais estavam alguns dos melhores engenheiros e arquitetos do Brasil, chefiados por Aarão Reis. Belo Horizonte foi inaugurada, ainda em construção, no dia 12 de dezembro de 1897. Fonte: IPHAN
- Por que liberais fazem a curva à esquerda?
O segundo turno de qualquer pleito eleitoral é marcado por apoios: políticos e personalidades diversas aparecem e declaram voto em determinado candidato que mais se assemelha às suas convicções, fazendo que com seus admiradores elejam o tal político. Inclusive os concorrentes perdedores do primeiro turno articulam com seus partidos qual será o melhor caminho a seguir a partir daí. Nestas eleições o presidente Jair Bolsonaro recebeu apoio de vários políticos: os governadores eleitos Romeu Zema (NOVO) e Cláudio Castro (PL), além do governador de São Paulo Rodrigo Garcia (PSDB) tornaram público que estão à direita na segunda etapa da eleição. Na classe artística, chamou a atenção a união de vários artistas sertanejos em prol da reeleição de Bolsonaro: Leonardo, Zezé Di Camargo, Sula Miranda, Gusttavo Lima, Chitãozzinho e a dupla Henrique e Juliano se reuniram em Brasília, no palácio do Planalto, e em entrevista coletiva à imprensa pediram aos fãs que reelejam o presidente. Na ala vermelha da força, os apoios não surpreenderam, a priori: Fernando Henrique Cardoso, tucano raiz, já se posicionou a favor do petista, Simone Tebet (MDB) decidiu ficar contra o agronegócio (que Lula chamou de “fascista”) e foi para o lado esquerdo, juntamente com Ciro Gomes (PDT). Contudo, um grupo de pessoas surpreendeu ao declarar apoio ao descondenado petista: liberais econômicos. Pedro Malan (ex-ministro da Fazenda do governo FHC), Elena Landau (ex-assessora da presidência do BNDES e ex-diretora da área responsável pelo Programa Nacional de Desestatização do governo FHC) e o movimento liberal LIVRES expuseram sua escolha por Lula. Esses movimentos trouxeram uma interrogação: como que liberais econômicos podem apoiar alguém que, quando esteve na presidência, roubou bilhões dos cofres públicos? Como ninguém trouxe essa explicação, me permito esclarecer esta dúvida. Primeiro, gostaria de esclarecer: o conservador já é liberal economicamente falando, porque entende que o Estado deve ser mínimo, e não inexistente. Contudo, via de regra, o liberal não é conservador; muitos pensam que esta classe, por defender a Economia, está do lado direito da força, e não é assim. O maior exemplo que temos em solo brasileiro é o Movimento Brasil Livre (MBL), que vendeu uma imagem de direita liberal, mas chegaram a fazer manifestação juntamente com Ciro Gomes em 2021. E por que os liberais tomam esta atitude? Um dos motivos é a culpa: há um clamor promovido por uma classe “intelectual” para uma chamada “sociedade mais justa”. A esquerda prega que a “classe burguesa” é quem promove a desigualdade, pois concentra a renda. O que esse grupo faz para “aliviar” esta culpa? Investe seu dinheiro em movimentos de esquerda, que alegam trabalhar por esta “justiça social”.E como acontece a “lavagem cerebral” para que liberais ajam dessa forma? O saudoso professor Olavo de Carvalho, em seu artigo “Direto do inferno” (disponível no livro “O mínimo...”), mostra quem são os agentes da culpa: “Os cientistas sociais, os psicólogos, os jornalistas, os escritores, as ‘classes falantes’ (...) são forças de agentes da transformação social, as mais poderosas e eficazes, as únicas que têm uma ação direta sobre a imaginação, os sentimentos e a conduta das massas.” As “classes falantes” contaminam a massa, o povo; o povo se rebela; a esquerda acusa os ricos; e os ricos, com peso na consciência, contribuem para a “causa”. A esquerda “elogia” a postura, a “classe falante” propaga e o povo compra a ideia. E assim, o sistema se autoalimenta. O liberal possui um pensamento que resume-se a uma palavra: dinheiro. Notem a postura destes que estão ao lado de El Cachacero: não levam em conta a questão moral, a falta de caráter, o rombo nos cofres públicos, enfim. Em contrapartida, ao levantarem-se em favor do ex-presidiário, citam a expressão “democracia”. Vamos analisar de qual “democracia” eles sentem falta. Em 2014, o jornal Valor Econômico publicou um levantamento com base em dados dos 50 maiores bancos: os lucros foram de R$ 279,9 bilhões durante todo o governo de Lula, contra R$ 34,4 bilhões durante a gestão de Fernando Henrique Cardoso. O Valor Econômico analisou ainda outro indicador que, segundo a reportagem, pode comparar com mais precisão os balanços nos dois períodos. Considerando a rentabilidade média sobre o patrimônio líquido, os bancos continuam ganhando mais no governo Lula, cujo indicador é de 20,1%, do que no FHC (7,04%). Ele mede o quanto os bancos estão tendo em retorno sobre o capital que investiram (patrimônio). O adversário eleitoral Ciro Gomes chegou a dizer que o Partido dos Trabalhadores (que irônico, não?) transferiu mais dinheiro aos bancos do que aos pobres:“R$ 4,88 trilhões, no período em que o Lula deu as cartas do poder brasileiro, foram transferidos para os bancos, via juros. E, R$ 332 bilhões foram transferidos para os pobres no Bolsa Família. Isso é uma coisa concreta.” Agora, trago um recorte do jornal Esquerda Diário, que, por incrível que pareça, trata deste assunto com honestidade intelectual, mostrando que a relação de Lula com a alta classe é antiga: “A política de facilitação de crédito, como a redução do dinheiro que os bancos têm que deixar depositado nos bancos, resultou numa liberação massiva de reais no mercado. Em 2002, o crédito disponibilizado no país era de R$ 380 bilhões, em 2010, chegou a R$ 1,6 trilhões. Isso se transformou em ‘o aumento do poder de compra dos brasileiros’, ao passo que o salário médio dos trabalhadores não representou esse salto. Com o constante aumento da inflação, acompanhado do aumento dos juros, o que foi chamado de ‘poder de compra’ dos trabalhadores, era o aumento da parte do salário que ia para o bolso dos banqueiros. Nunca os banqueiros lucraram tanto no país. Em 2011 calculou-se em torno de R$ 200 bilhões (sem corrigir com a inflação atual, o que elevaria esse valor) nos 8 anos de Lula. Com grande parte do salário dos trabalhadores destinado aos cofres dos bancos, mesmo numa crise econômica, os bancos continuam aumentando seus lucros. Todas as políticas que beneficiaram estes banqueiros tiveram como resultado o endividamento em massa.” Liberais geralmente viram à esquerda porque lhes falta a bússola moral para reger a vida moral. O professor Olavo explica isso em seu artigo: “Por que não sou liberal”: O liberalismo é a firme decisão de submeter tudo aos critérios do mercado, inclusive os valores morais e humanitários (...) O liberalismo é um momento do processo revolucionário que, por meio do capitalismo, acaba dissolvendo no mercado a herança da civilização judaico-cristã e o Estado de direito.” Aqueles que não possuem uma régua moral para se guiar acabam cooptados pelo discurso progressista de lutar pela “justiça social” e alimentam o monstro que irá devorá-los, mais dia, menos dia.
- Cátaros, Políticas Sociais, Preconceitos e Constituição
Há muito tempo surgiu a doutrina gnóstica, ensinava que no princípio dos tempos existiu uma divindade perfeita, continha em si tudo o que existe. De um instante para outro, este todo deu início a um processo constante de partição em pedaços iguais, em essência, e opostos em acidentes. Deste processo surgiram masculino/feminino, claro/escuro, o alto e baixo etc. Segundo estes teóricos, também de um instante para outro, a partição produziu uma partícula diferente, os demais pedaços da divindade primeira, que antes se julgavam iguais, ao ver a partícula diferente perceberam que não eram completos, faltava-lhes algo que estava presente na partícula diferente. Isto desintegrou a divindade, suas partículas se dispersaram e prosseguiram o processo de partição interminável. Para conter a desintegração da divindade, surgiu um ente, o Demiurgo, que criou a matéria e dentro dela aprisionou as partículas divinas. Interrompeu o processo de desintegração através do aprisionamento das partes do divino. Neste processo há uma divindade boa, o todo inicial, e um Deus mau, o criador da matéria. O paganismo fundava-se nesta doutrina, a matéria era má porque aprisionava do divino que precisava, a qualquer custo, libertar-se para tentar trilhar um caminho de retorno à unidade original, à plenitude. O platonismo é mostra clara desta cosmovisão. Platão, em Fedon, afirmou categoricamente estar seguro do avanço que lhe traria sua transferência para junto dos deuses que são excelentes amos, por isso não se revolta com a ideia de morte, pelo contrário, tem esperança nela. Por isto, as crianças deveriam ser educadas para temer a morte o menos possível e tornarem-se adultos corajosos para lutar pela liberdade mais do que pela própria vida. Depois deste pensador, Cristo ensinou que não existe “início”, como dizem os gnósticos, Deus é infinito, não há princípio nem fim, ademais existe somente um Deus. É bom, não comporta partições, é simples no sentido de unidade, personificação, cuja vontade difusora de amor criou a matéria. No Cristianismo a matéria é dom, essencialmente boa, por isso a defesa da vida é a primeira lei natural. No cristianismo a liberdade é valor fundamental. Esta é uma das mensagens advindas da crucificação de Cristo, que além da revelação de fé, sobre ressurreição de corpo e alma para os que se empenham em viver a ordem de valores por ele ensinada, nos ensina que a liberdade, inclusive direito de expressão da verdade, exige coragem e grandeza de personalidade. O Homem deve empenhar-se na vivência das virtudes. O gnosticismo pagão se infiltrou na igreja de Cristo através de diversas seitas inclusive dos maniqueístas e sobretudo dos cátaros. Estes pregavam a mortificação do corpo, a autoflagelação, eram contra o casamento pois produzia mais matéria, os filhos, novos cárceres da alma, centelha divina aprisionada. Nessas circunstâncias, achavam preferível o amor livre e matavam mulheres, sobretudo as grávidas. Profanavam os templos e cultos católicos pois não aceitavam a existência humana como um bem, nem que Deus houvesse se encarnado em Jesus. O suicídio era o ponto alto da doutrina cátara como forma de libertação da partícula divina presa na carne. Violavam a primeira lei natural, basilar para o catolicismo: preservação da vida. Sua conduta produzia indignação social e reações em que tanto os cidadãos quanto o poder político secular, os agrediam e matavam violentamente. A desagregação social que produziam era tamanha que há quem defenda que se sua doutrina se tornasse universal devia levar a extinção da raça humana. Os cátaros marcaram vivamente o simbolismo da realidade material do homem como um mal, cuja malignidade era insuperavelmente maior na mulher em face de sua natural fecundidade, capacidade de reprodução. A doutrina era oposta à orientação católica de elevada distinção da dignidade da mulher, que o Novo Testamento traz a lume através do escrito descritivo do primeiro milagre de Jesus Cristo. Nesta oportunidade, a mãe de Jesus, ao pedir-lhe que intercedesse pois havia faltado vinho na festa onde estavam, Este respondeu: “Mulher, o que existe entre nós? Minha hora ainda não chegou.”. De imediato, atende seu pedido e transforma água em vinho. Ao enfatizar a palavra mulher, Jesus revela e ressalta que a mulher é capaz de dar causa à vontade divina de realização do bem, tem força suficiente para vencer obstáculos: “minha hora ainda não chegou”. O pedido de uma mulher move a vontade de Deus. A simbologia da mulher transmuta-se de subserviência ao maligno, comum às ideologias gnósticas, para a intercessora de bênçãos junto a Deus Filho. Os movimentos sociais que posteriormente expressaram a igualdade entre homens e mulheres, inicialmente em face da lei e posteriormente em direitos e obrigações, assim como proteções específicas relativas a maternidade, partem da orientação Cristã. Assim também as normas constitucionais proibitivas de qualquer tipo de discriminação do ser humano. Seguiram-se a estes movimentos as inserções normativas constitucionais de reconhecimento de igualdade, entre homens e mulheres, de modo que a variação de sexo é acidental, incidente sobre uma mesma substância denominada espécie humana6. A igualdade de que tratam as normas modernas, em especial a Constituição brasileira, é a igualdade essencial. Nesta senda, reza o inciso I, artigo 5º que reconhece a igualdade, em direitos e obrigações, para homens e mulheres. É esta mesma essencialidade comum à espécie humana que autoriza a Constituição da Republica de 1988 a reconhecer, no artigo 5º, que todos são iguais perante a lei. Refere-se à igualdade essencial da qual são acidentes a cor da pele, o comportamento religioso a forma de exercício da liberdade individual etc. Enfim, o Estado brasileiro registra, na Constituição, a herança ancestral ocidental que se estruturou através da transposição do paganismo grego para o cristianismo. É este o fundamento de sua orientação sistêmica de respeito à dignidade humana como espécie. Esta cosmovisão que se crava na Constituição brasileira e traz como elemento a confiança na autonomia individual para gestão do próprio destino, tem o mesmo sentido utilizado pela União Europeia e expresso em um de seus documentos gerentes de desenvolvimento econômico: apoio aos compromissos de geração de emprego e estímulo à aprendizagem para que o crescimento individual seja resultado do esforço próprio de superação das dificuldades individuais e motor do desenvolvimento nacional. Nesta linha de entendimento, a Constituição da República Federativa do Brasil estabelece, no inciso IV, artigo 1º que o trabalho e a livre iniciativa são fundamentos do Estado e associa a esta premissa o objetivo de Estado de desenvolvimento nacional na forma do inciso II, artigo 3º. O artigo 3º da Constituição da República traz como único instrumento de ação, para alcance dos objetivos de Estado, o desenvolvimento nacional, é de se entender que os demais objetivos serão alcançados através dele. Nesta linha, o objetivo estatal de solidariedade, expresso no mesmo dispositivo, também se subsume ao instrumento de desenvolvimento nacional. O que se impõe ao Estado, objetivamente, é o desenvolvimento. Este, abriga o fomento à geração de empregos, ao livre empreendedorismo, ao sistema de aprendizagem, à estabilidade emocional através da harmonia social e segurança, bem como o cuidado com a saúde. É fundamental ter em mente a realidade atestada historicamente de que o desenvolvimento sócio/econômico somente se potencializa impulsionado pelo aumento da diferenciação acidental. Esta observação produziu a assertiva de que a evolução cultural, com a civilização dela decorrente, trouxeram a diferenciação, riqueza crescente e grande expansão da espécie humana. Nestas condições, o dever estatal de promoção do desenvolvimento nacional para geração da sensação de bem-estar interno exige o fortalecimento da percepção individual de igualdade essencial, simultaneamente, com o favorecimento à diferenciação acidental. É a realidade que se apresenta como condição de execução de qualquer competência Estatal de desestímulo à discriminação estabelecida pelo inciso IV, artigo 3º da Constituição. Por seu turno, o dever de facilitação da aprendizagem inclui o favorecimento do acesso a informações técnicas, associadas ao fomento do reconhecimento da igualdade essencial da espécie humana, tanto quanto o crescimento da virtuosidade humana. É assim por causa da revelação, efetivada pela História de que a moralidade, reflexo de condutas virtuosas, foi o elemento determinante para a civilização atual, pois foram os grupos que seguiram suas regras que conseguiram multiplicar-se e enriqueceram em relação a outros grupos. O estímulo, do Estado, ao fortalecimento da virtuosidade humana é condição de desenvolvimento nacional que coopera para a construção da justiça social estabelecida pelo inciso I, artigo 3º da Constituição. O dever de desenvolvimento da virtude humana é imperativo civilizacional e condição de realização do objetivo Estatal de superação de preconceitos como determina inciso IV, artigo 3º da Constituição. Ao Estado brasileiro, por imposição constitucional, compete edificar um ambiente interno favorável ao progresso individual, técnico e de caráter, resultante do empenho próprio de cada cidadão. O fomento ao crescimento individual é atividade de Estado basilar para geração do desenvolvimento nacional, como decorrência natural do esforço conjunto da população brasileira “todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente”, parágrafo único, artigo 1º da Constituição brasileira. Para realizar os ensinamentos da História, as políticas públicas e ações de grupos privados fundadas em diferenças acidentais precisam ser desestimuladas e substituídas por outras que fortaleçam a igualdade essencial. O sistema normativo orienta para o estímulo à aprendizagem técnica associada ao crescimento das virtudes humanas, pois o que gera bem-estar individual, harmonia social e prosperidade é a cooperação de todos com base na confiança advinda da virtuosidade do comportamento humano. É importante despregar-se das garras da contradição de ressaltar a diferença acidental com o discurso de promoção do bem de todos. O bem comum somente repousa no colo da igualdade essencial, única possibilidade de igualdade humana nesta terra e único caminho de destruição das discriminações. Os símbolos da doutrina cátara ainda estão vivos no mundo moderno, escondem-se e revelam-se em imagens, obras de expressão plástica, interpretações de teatro, música e que, subliminarmente, ressaltam diferenças acidentais dos seres humanos como instrumento de geração de antagonismo social. A associação da imagem da mulher à malignidade é apenas um exemplo da vitória do vício da crueldade, estimulado através do fortalecimento das desigualdades acidentais como fundamento para desavenças, sobre o mandamento cristão de caridade humana, alcançável apenas com o desenvolvimento equilibrado da virtuosidade individual. Este movimento parte, necessariamente, do reconhecimento e fortalecimento da igualdade essencial da espécie humana. As políticas, ou legislação infraconstitucional, de suporte social precisam evitar vivamente fundar-se em desigualdades humanas acidentais e permanentes para passar a apoiar-se em realidades transitórias, que permitam mobilidade dos integrantes dos grupos beneficiados. São exemplo deste segundo tipo os habitantes de determinados espaço, as pessoas que se encontram desacompanhadas no sustento de suas famílias etc. As normas infraconstitucionais e políticas públicas, ou privadas, fundadas em desigualdades humanas acidentais permanentes são desagregadoras porque apoiam-se sobre o binômio algoz/vítima. São contrárias ao objetivo estatal de desenvolvimento nacional, porque essencialmente discriminativas. A premissa sob que se fundam nega diretamente o reconhecimento da igualdade essencial do homem. O discurso de redução de desigualdades sociais e da discriminação através de ações de avivamento das desigualdades acidentais do homem é contradição interminável. Tal comportamento labora sobre o engano, esconder-se em promessas de correção de circunstâncias históricas ou condição social quando o resultado por elas produzido é a animosidade interna entre os cidadãos. Tais ações atraiçoam, porque prometem o que, potencial e intencionalmente, não são capazes de concretizar. Findam por aprisionar à infindável dependência do Estado, os indivíduos para quem dizem buscar tutela. Entrava-lhes a dignidade e a confiança individual na própria capacidade de superação da realidade desvantajosa. Nestas circunstâncias, para alcance do desenvolvimento nacional, o sistema constitucional determina que a realização dos objetivos de Estado se operem através da utilização de instrumentos verdadeiramente capazes de concretizá-los. São os recursos, reafirmativos da dignidade humana, fundados no reconhecimento da essencialidade igual do homem, em sua capacidade individual de superação de dificuldades e de contribuição para o desenvolvimento comum. O engano, mentira e a traição que se escondem na base das ações que se pretendem redutoras da discriminação e das desigualdades sociais, mas se fundam no fortalecimento das desigualdades acidentais permanentes, surpreendentemente estão presentes na etimologia da palavra diabo. Para os gregos, diábolos é aquele que engana, traiçoeiro, e para os latinos diabolus é o espírito da mentira, personificação do mal. Será por esta causa que a Constituição da República é avessa às ações e políticas de fortalecimento das desigualdades acidentais permanentes? Ou será, simplesmente, porque o constituinte conhecia a doutrina gnóstica de que a partição dos essencialmente iguais os transforma em opostos e provoca a desintegração da divindade? Será que nossa Democracia constitucional resiste a partições dos essencialmente iguais? Deus nos ajude!
- História de Campos do Jordão
Imagem: https://www.cidadeecultura.com/historia-campos-do-jordao/#:~:text=Com%20o%20falecimento%20de%20Ign%C3%A1cio,origem%20ao%20nome%20da%20cidade. Por ordem real, com o objetivo de transportar o ouro de minas de Itajubá (MG), em 1720, foi aberto um caminho por Gaspar Vaz, que saía desde o Vale do Rio Sapucaí até Pindamonhangaba (SP). Apesar de o caminho Ter sido fechado, Gaspar Vaz estabeleceu-se na região, transformando-a em importante centro comercial de gado. Em 1771, Inácio Caetano Vieira De Carvalho, também atraído pelos encantos da região, resolver aqui se estabelecer. Em 27 de Setembro de 1790, por meio de carta do Governador da Capitania de São Paulo, obteve sesmaria. Após 1825, a gleba foi vendida ao Brigadeiro Manuel Rodrigues Jordão, ficando, o lugar que era denominado “Os Campos”, conhecido como “Os Campos do Jordão”. Em 1874, as terras foram adquiridas por Matheus da Costa Pinto, que fundou o povoado de São Matheus do Imbiri, atual Vila Jaguaribe, justa homenagem ao Dr. Domingos Nogueira Jaguaribe, que introduziu importantes melhoramentos no povoado, hoje marco da fundação de nossa cidade. No início deste século, devido ao clima com alto nível de oxigênio, aliado a baixas temperaturas, a região passou a ser referência no tratamento de tuberculose, criando, a partir de então, diversos sanatórios. A cidade, nesta época, passou a atrair médicos e pacientes de todo o país, muitos deles políticos influentes e grandes empresários. Em razão de longos períodos de tratamento que a doença exigia, muitos fixaram residência e trabalho na cidade, colaborando com o desenvolvimento da região. Domingos José Nogueira Jaguaribe, médico, político, escritor e fundador do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, interessou-se pela região, que já ganhara notoriedade e, em 1891, comprou boa parte das terras de Matheus da Costa Pinto. Então, dividiu em lotes para venda, nos quais foram construídos pensões e hotéis para receberem doentes da tuberculose e do alcoolismo. Em 1918, a vila passou a ser chamada de Vila do Jaguaribe, em homenagem ao morador que trouxe progressos para o local. Abernéssia, famoso bairro que hoje abriga diversas atrações turísticas, igrejas, lojas e avenidas, teve início com a vinda de um escocês, o engenheiro Robert John Reid, que, por volta de 1907, foi nomeado agrimensor na ação judicial de divisão da Fazenda Natal. Recebeu, como pagamento pelos seus serviços, uma vasta área de terras na região. Em 1915, Vila Nova passou a ser chamada de Vila Abernéssia, nome da chácara em que Reid viveu, como homenagem ao morador ilustre. O nome Abernéssia foi criado pelo próprio Reid, fazendo alusão às cidades escocesas Aberdeen e Inverness. Pela Lei nº 2.140 de 01/10/1926, Campos do Jordão transformou-se em Estância Hidromineral. Em 1938, o então interventor federal Adhemar de Barros, encantado com a paradisíaca natureza local, decidiu construir, além de sua casa de campo, uma sede de veraneio do Governo do Estado, em Campos do Jordão. Depois de levantadas as paredes e coberto o “Castelo”, como era chamado pelo povo, permaneceu o prédio fechado por 26 anos. A construção só foi concluída em 1964. Nesse mesmo ano, era inaugurado o Palácio da Boa Vista, contando com a presença do Presidente da República, Marechal Humberto de Alencar Branco, anfitrionado pelo Governador Adhemar de Barros. No período de 1967 a 1971, o Palácio Boa Vista foi muito explorado em eventos culturais, principalmente em exposições de artes plásticas brasileiras da época pré-modernista e da fase compreendida entre 1913 (ano da primeira exposição de Lasar Segall) e 1950, quando a Pinacoteca do Estado começou a adquirir obras de artistas modernos, o que significou a admissão oficial da arte contemporânea em nosso País. Nessa época o palácio torna-se Museu e Monumento Público, sem, entretanto, perder suas funções de veraneio. Em 1969, o então governador Abreu Sodré, por solicitação de seu Secretário da Fazenda, Luiz Arrobas Martins, cedeu espaço no saguão interno do palácio para apresentações de música erudita. No ano seguinte, foi criada uma Comissão Organizadora dos Concertos de Inverno de Campos do Jordão, com a pretensão de promover na cidade programas idênticos aos grandes centros turísticos da Europa e Estados Unidos. Devido ao sucesso desses eventos culturais, que passaram a ser frequentes, os espetáculos exigiam a criação de um espaço mais amplo e independente para abrigar um número cada vez maior de expectadores. Em 1979 foi inaugurado o Auditório Campos do Jordão, mais tarde denominado Auditório Cláudio Santoro. O complexo é dotado de 900 confortáveis poltronas numeradas, modernos sistemas de calefação, iluminação e acústica, além de um palco com capacidade para apresentação de grandes orquestras. Em 1998, a Secretaria de Estado da Cultura, que administra o auditório, construiu uma concha acústica para apresentações ao ar livre de música popular. O festival é considerado atualmente um dos mais respeitados concertos de música erudita e de câmara de toda a América Latina. Por ter característica climáticas e paisagísticas semelhantes a de várias regiões da Europa, Campos do Jordão passou a receber construções com arquitetura típica dos alpes suíços, espalhadas por praticamente todo o seu território. Não é à toa que Campos do Jordão foi batizada carinhosamente de "Suíça Brasileira". O município tem como principal atividade econômica o turismo e é um dos principais destinos de inverno do Brasil. Brigadeiro Jordão “Era amigo do Imperador D. Pedro I e fez parte do Governo Provisório. Naquela época, foi incluído entre os 10 maiores proprietários de terras da Província de São Paulo, chegando a ser diretor do Tesouro da Província. Alguns historiadores localizam-no no famoso quadro de Pedro Américo, alusivo ao Grito do Ipiranga, em 7 de setembro de 1822, quando este subia a Serra de Santos. Ademais, o local da Proclamação da Independência do Brasil, no Ipiranga, ficava na Fazenda Palmeiras, de propriedade do brigadeiro Manoel Rodrigues Jordão”. Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania N.º 24 Fontes:https://www.camposdojordao.tur.br/historia https://www.cidadeecultura.com/historia-campos-do-jordao/#:~:text=Com%20o%20falecimento%20de%20Ign%C3%A1cio,origem%20ao%20nome%20da%20cidade.
- A Quarentena e os Bandos
Temos vivido a tal quarentena que remete a quarenta, mas, na verdade, é por período indeterminado. Dizem que estamos presos, mas não há prisão capaz de conter a infinidade de atividades que podemos desenvolver num mesmo espaço físico e, sobretudo, não há meios de aprisionar a nossa capacidade de pensar, criar, desenvolver habilidades, interagir, ser solidários e expressar amor. Então o que nos incomoda exatamente, nesta situação de afastamento social? O primeiro pensamento que me ocorre é que estávamos habituados à ininterrupta tentativa de fazer o mundo e tudo que nele há, funcionar a favor de nossos interesses individuais, que escolhemos a partir de nossa baixíssima capacidade de percepção da realidade existencial, de nossa condição individual dentro da circunstância coletiva e sobretudo de nossa identidade: o que somos aos nossos próprios olhos? A que servimos? Que destino estamos imprimindo aos dias que se nos apresentam de presente? Modernamente, reduzimos o tamanho de nossas famílias, não moramos mais todos juntos, avós, filhos, tios e netos, achamos que esta forma de convivência dificultava os relacionamentos, cada um precisa fazer conformar o mundo ao seu modo de vida, começamos a considerar que as presenças afetavam nosso direito à privacidade. Afrouxamos os laços de convivência e os parentes que estavam conosco nas refeições e nas conversas do fim do dia passaram a ser vistos com dia e hora marcados, cada vez mais esporadicamente, perdemos a noção fundamental de bando original, a família em sua estrutura mais larga. Tentamos substituir essa convivência familiar pela convivência social mais adequada ao propósito comum de conformação do mundo aos nossos interesses. Como um grande número de pessoas convencionou que esta era a maneira adequada de viver, formamos um grupo imenso de pessoas com o modo de proceder semelhante, um bando substitutivo do bando original, a organização familiar inicial. No bando original, estávamos mais próximos dos exemplos ancestrais que reforçavam a aceitação do outro, a tradição familiar favorecia da aceitação individual pela semelhança, portanto, os papeis que representávamos estavam mais vinculados a nossa realidade interna, a nossa essência, à verdade do nosso eu. No bando substitutivo os papeis, precisaram ser reconstruídos para atendimento da expectativa comum de conformação do mundo aos nossos interesses individuais, ganharam uma padronização de certo e errado de acordo com esse propósito, não havendo a partilha de emoções familiares a sustentar a aceitação mútua como no bando original, precisamos de padrões de certo e errado mais uniformes para sermos aceitos pelo novo bando. Nos afastamos muito da verdade do nosso eu para nos encaixarmos neste bando substituto, e o afastamento incluiu a supressão de atividades que destinávamos ao embelezamento de nossa essência como o tempo dedicado às artes, a leitura, à contemplação à comunicação com o divino e à convivência com os que nos eram essencialmente semelhantes e partilhavam a mesma história ancestral. Empobrecemos nossa essência, por falta de tempo. Talvez seja este o mal-estar coletivo que tantos comentam, deixamos de ser quem somos e de estar com os que nos são semelhantes. A quarentena suprimiu os espaços para representação dos papéis destinados à conformação do mundo aos nossos interesses, desmanchou os palcos e, sobretudo, enfraqueceu os vínculos com o bando substitutivo, por isso emergiu uma sensação de abandono, no sentido etimológico da palavra: a – ban – dono, “a” prefixo de negação; “ban” indicativo de bando e “dono” referente a senhorio. A ideia de que resultamos abandonados, sem bando e sem dono, nasce porque nos afastamos do bando original e o bando substitutivo não existe mais, tal como o vivenciávamos. A pandemia atual parece nos reconduzir ao bando original e à redução da convivência para nos restringirmos aos mais semelhantes a nós, semelhança é elemento que favorece a aceitação natural, se for assim, penso que tendemos a desenvolver papeis mais verdadeiros, mais próximos de nós mesmos. O hoje confirma que o mundo é naturalmente inconformista, é ele que estabelece as regras para desfrute da vida que ele generosamente nos presenteia, tomara que esta pausa nos habilite à humildade, à gratidão pelo seu acolhimento e generosidade para conosco, nos habilite à reverência incondicional à vida, ao embelezamento de nossa essência e ao reconhecimento da sacralidade da existência para merecer estar vivo . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania N.º 25
- Onde está a sua esperança?
Semana de Natal. Neste ano, tudo está sendo atípico: não tenho visto janelas iluminadas com as luzes tradicionais, não está acontecendo aquela famosa correria de fim de ano para as compras da ceia ou de roupas novas para usar na festa; estamos em um limbo repleto de incertezas, o que faz com que as pessoas, ainda que não demonstrem, estejam preocupadas com o que o amanhã reserva. Há patriotas ainda acampados nas portas dos quartéis, outros em Brasília, depositando todas as suas fichas em uma única ação. Os que não estão acampados por diversos motivos, estão assistindo as movimentações da transição e quase tendo uma síncope a cada anúncio de possíveis ministros: já temos na lista Fernando Haddad, Flávio Dino, Margareth Menezes, Rui Costa. De fato, isso é pior que um pesadelo! Porém, venho através deste artigo para fazer uma pergunta: onde está a sua esperança? Há aqueles que já a perderam, e eu não julgo. Mas nem tudo está perdido. Para o Brasil? Para o seu Estado? Para o mundo? Não! Para você! “Dani, como assim? Então quer dizer que não devo mais lutar?” Nada disso! Mas me permita explicar como que o discurso global esquerdista se infiltrou no meio dos conservadores e cristãos. Como age o meio progressista? Através do coletivismo: eles não dizem que querem ajudar os pobres, mas “acabar com a pobreza”; eles não falam sobre atuar nos bairros para promover conscientização ambiental, mas em “discurso global contra emissão de gazes, contra o agro, etc.”. Ou seja, eles NUNCA tratam do individual ou local, mas do global; isso faz com que a dominação seja mais fácil de se conseguir. Além disso, o discurso global não leva em conta as especificidades de cada lugar e do grupo de pessoas que ali residem. Agora, percebam que este é o discurso que tem se infiltrado aos poucos no meio conservador: “precisamos salvar o Brasil!”. Óbvio que devemos lutar pelo melhor para o nosso país, mas este discurso coletivista, em vez de nos fortalecer, esvazia nossas forças. O Brasil é um país continental, com necessidades diversas, como que eu, um ser pequeno, conseguirei esta tarefa hercúlea? Simples: se cada um salvar a si mesmo. E apenas com o Evangelho isso é possível! “Ih, lá vem ela com esse discurso religioso...”. Nada disso! Não trago aqui discurso religioso, mas de realidade! Não temos condições de salvar o mundo, mas podemos (e devemos!) salvar a nossa alma. No momento mais difícil para o povo de Israel – o cativeiro babilônico – Jeremias escreveu: “Quero trazer à memória o que me pode dar esperança” (Lamentações 3.21). O profeta entendia que não dava para mudar aquela situação externamente, mas dentro dele; uma coisa que aprendi na igreja é: quando mudamos a visão, mudamos a condição, e isso deve acontecer primeiro dentro de nós. Quem já teve a oportunidade de viajar de avião sabe que a aeromoça dá várias instruções em caso de emergência, e uma delas é: “Em caso de despressurização da cabine, máscaras de oxigênio cairão automaticamente (...) Auxiliem crianças ou pessoas com dificuldade SOMENTE APÓS TEREM FIXADO A SUA”. Não temos a menor condição de ajudar alguém se estivermos mal, e não podemos “salvar o Brasil” se nós mesmos não estamos! Trato aqui de salvação da alma, mas não apenas disso. Se sua casa estiver desajustada, se seu casamento estiver mal, se você não tem disciplina com suas atividades, não conseguirá salvar um país inteiro! Jordan Peterson, psicólogo clínico canadense, em sua obra “12 regras para a vida”, deu a lição 6 o título “Deixe a sua casa em perfeita ordem antes de criticar o mundo”. Se eu fosse a autora da obra seria: “Salve a sua alma antes de salvar o mundo!”. Nosso Senhor já havia “dado a dica” quando disse: “Mas buscai PRIMEIRO o Reino de Deus, e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas.” (Mateus 6.33). A maior esperança que podemos ter em meio a este caos que assolou o Brasil é saber que Nosso Senhor é com aquele cujo coração já lhe foi entregue. Já falei algumas vezes e repito: a política não é um fim em si mesma. Ela é necessária enquanto vimemos neste mundo, porém não deve nortear a nossa vida a ponto de abandonarmos nosso convívio familiar e, acima de tudo, com Deus. E: a guerra é espiritual. Se todo o problema fosse simplesmente político, o presidente Jair Bolsonaro não teria dificuldades em resolvê-los; e guerra espiritual não se vence com discurso, mas de joelhos dobrados. Independente da situação que vier, o lema que nosso presidente nos ensinou, na ordem que está, é que fará a diferença: DEUS, FAMÍLIA, PÁTRIA E LIBERDADE. Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania N.º 25